A IMPORTÂNCIA DAS ÁRVORES NO ESPAÇO URBANO DAS CIDADES DO SEMIÁRIDO

Joacir Rufino de Aquino & Raimundo Inácio da Silva Filho (Professores e pesquisadores da UERN)

29 de março de 2021 – Jornal o Mossoroense

Nos últimos 50 anos os perímetros urbanos dos municípios do Semiárido nordestino cresceram substancialmente. Hoje, a maior parte da população vive nas cidades da região. Como resultado, o meio natural foi sendo ocupado por aglomerações residenciais, comerciais e industriais. Mas entre as estruturas das paisagens de concreto e das ruas asfaltadas ou calçadas com paralelepípedos, existem ainda refúgios para as árvores.

Realmente, é possível encontrar nas cidades nordestinas, especialmente no interior sertanejo, a presença de muitas árvores, uma parcela significativa delas plantada e cuidada pelos próprios moradores. São variedades de todo tipo, desde plantas nativas da caatinga como a carnaúba (Copernícia Prunífera), até outras variedades vindas de fora, como a mangueira (Mangifera Indica) e o nim indiano (Azadirachia Indica A. Juss).

Do ponto de vista da geografia urbana, as árvores desempenham diversos papeis nas cidades do Semiárido nordestino. Grosso modo, elas ajudam a melhorar o microclima e a sensação de conforto térmico diante das altas temperaturas da região, fornecendo sombra para os habitantes urbanos onde o cimento, o concreto e o asfalto predominam. As suas copas também servem de abrigo para pássaros e outros animais, contribuindo para a preservação e disseminação de várias espécies.

De igual importância são os aspectos paisagísticos e os referentes à qualidade de vida. As árvores, quando bem-cuidadas, embelezam as ruas e praças com flores e aromas agradáveis que amenizam o cheiro forte da poluição provocada pelas atividades humanas e pela fumaça expelida incessantemente pelos escapamentos dos veículos em sua movimentação cotidiana.

Outro papel fundamental das árvores no urbano das cidades, que não pode deixar de ser mencionado, é sua contribuição para a segurança alimentar. Em municípios como Assú, por exemplo, que se destaca no Rio Grande do Norte pela grande concentração de mangueiras dentro da sua área urbana, isto é evidente. De fato, todos os anos as mangueiras espalhadas nos bairros e ruas assuenses produzem espontaneamente, sem nenhum custo para os seus habitantes, centenas de quilos de frutas de ótima qualidade que enriquecem a dieta das famílias com um alimento saudável e sem agrotóxicos.

O conjunto de aspectos elencados aqui enseja muitos desafios. O principal deles se refere aos cuidados com esse valioso patrimônio natural. O problema é que a maioria das prefeituras das cidades do Semiárido não faz uma preservação adequada de suas árvores. Não raro, elas simplesmente são derrubadas ou são vítimas de podas cruéis, que, em muitos casos, deixam apenas “os troncos e os galhos limpos”. Esse tipo de manejo generalizado gera prejuízos para a sociedade, pois nega todos os fatores positivos que as árvores podem desempenhar para melhorar a vida nas cidades, conforme elencado acima.

Nesse contexto, parece claro a necessidade de muitos avanços na gestão ambiental dos municípios do Semiárido. Em particular, é preciso inserir a ampliação da arborização nos planos diretores locais e cuidar melhor de nossas árvores urbanas. Elas fazem parte do espaço vivido dos moradores das ruas e bairros e são fundamentais para o bem-estar da população. Logo, não podem ser tratadas pelas administrações municipais apenas como um item da limpeza pública. A sua importância exige um manejo responsável pautado em critérios técnicos e paisagísticos, o qual vai muito além da prática costumeira de somente “passar a foice, o machado ou a motosserra”.

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