A crise provocada pela pandemia da COVID-19 atingiu todos os setores da economia potiguar, com especial destaque para o comércio, os serviços e a indústria. Mas a agropecuária do estado também foi impactada. Essa é uma das principais constatações da pesquisa realizada para aferir “os efeitos da crise da COVID-19 na fruticultura do Vale do Açu”, que acaba de ser concluída.
A referida pesquisa, executada durante o mês de julho/2020, contemplou 33 pequenos e médios fruticultores que fazem parte do Programa de Desenvolvimento Territorial (PRODETER/BNB/Assú), sendo entrevistados 14 produtores de manga e 19 produtores de banana.
Os questionários, aplicados sob nossa coordenação por parceiros do PRODETER ligados à Associação dos Produtores de Manga (ASPROM), EMATER e BNB, visaram coletar informações sobre múltiplos aspectos da atividade: áreas produtiva e colhida, produção, produtividade, canais de comercialização, variação de preços, acesso a crédito entre outras variáveis.
Em linhas gerais, o levantamento revelou que os fruticultores do Vale do Açu enfrentam muitos problemas como a baixa produtividade, em comparação com outras áreas produtoras do Nordeste. Por exemplo, enquanto em Petrolina/Juazeiro há muito tempo os produtores superaram a média de 20 toneladas de manga por hectare, no Vale do Açu a média continua inferior a 10 toneladas por hectare entre os pequenos e médios fruticultores.
A pandemia, por sua vez, se refletiu no setor provocando queda dos preços, das vendas e das receitas obtidas. Note-se que os efeitos da crise foram mais severos com o segmento da manga, que, conforme estimativas do estudo, teve uma queda de receita no primeiro semestre de 2020 de -41% em relação ao mesmo período do ano passado. Já no caso da banana, as perdas foram menores, mas, mesmo assim, significativas: -15%.
Observe-se que a estimativa é grosseira e se refere a média. Foram identificados casos de produtores que não perderam e até obtiveram ganhos por vender sua produção por preços melhores do que em 2019. Outros ficaram abaixo da média e alguns tiveram perdas de até 70% porque seus preços caíram demais pela retração da demanda provocada pelas medidas de isolamento social.
Para fazer frente a situação enfrentada, os produtores reivindicam a renegociação de dívidas e linhas de crédito especial para recuperar as perdas. Entretanto, além do curto prazo, foram identificados outros desafios para o futuro da fruticultura açuense.
Entre tais desafios, está a constatação de que apenas 27% dos produtores de manga exportam suas frutas para outros países e nenhum produtor de banana declarou comercializar sua produção no exterior. Segundo os entrevistados, o número de exportadores poderia ser ampliado mediante a instalação de um Packing House (galpão padronizado de processamento e embalamento pós-colheita) para adequar as frutas às exigências do mercado internacional, sendo esta uma demanda antiga do segmento cuja concretização requer apoio governamental.
Ainda quanto à questão da comercialização, chamou a atenção o fato de que mesmo durante a pandemia apenas 1 (um) dos 33 entrevistados declarou comercializar ou expor suas frutas em alguma plataforma virtual na internet, prevalecendo a comercialização cara-a-cara com atravessadores e outros agentes.
Outro ponto inquietante é que 93% dos produtores de manga e 84% dos produtores de banana ainda comercializam sua produção “in natura” sem qualquer processamento agroindustrial. Isso porque no Vale do Açu não há atualmente nenhuma fábrica de sucos ou de doces para absolver os excedentes produtivos. Com isso, perde-se a oportunidade de gerar mais emprego e renda na microrregião.
Portanto, parece claro que a fruticultura açuense necessita se reinventar pós-pandemia. Além de recuperar as perdas do período, deve-se buscar caminhos para aumentar a produtividade e melhorar os canais de comercialização nos mercados nacional e externo. Na mesma linha, é preciso agregar valor à produção por meio de agroindústrias visando potencializar a capacidade do segmento de gerar dinamismo regional.
Joacir Rufino de Aquino & Raimundo Inácio da Silva Filho
(Economistas, professores e pesquisadores da UERN/Campus de Assú)