Você já ouviu falar de alguns deles: Adam Smith, Karl Marx, John Maynard Keynes? Sim, são todos economistas famosos, mas você conhece suas teorias?
No livro The Great Economists (Os grandes economistas, em tradução livre para português) a economista e jornalista britânica-americana Linda Yueh explica os pensamentos-chave que distinguiram esses e outros nove economistas, e o que eles podem nos ensinar sobre o mundo atual.
Em entrevista para a revista BBC History, Yueh destacou que, ainda que os 12 especialistas tenham pensamentos muito distintos – e em alguns casos opostos – todos têm algo em comum.
“Todos eles observaram os desafios econômicos mais importantes de sua época, os examinaram, analisaram e encontraram formas de nos ajudar a entender melhor o que estava ocorrendo. E o mais importante ainda, nos explicaram o que podia ser feito a esse respeito”, afirma a autora.
Assim, por exemplo, Adam Smith se preocupou como a Revolução Industrial afetava a motivação das pessoas e seu sustento econômico. John Maynard Keynes focou a busca pelo fim da Grande Depressão.
A obra também cita contribuições de David Ricardo, Alfred Marshall, Irving Fisher, Joseph Schumpeter, Friedrich Hayek, Joan Robinson, Milton Friedman, Douglass North e Robert Solow.
Todos esses economistas também abordaram certos temas em comum, principalmente o crescimento econômico. “Não apenas como crescer economicamente mas também a qualidade do crescimento econômico, a fim de que melhore a vida de todos”, diz a autora da obra.
Temas da atualidade: desigualdade social e baixos salários
O livro de Yueh surpreende ao revelar como alguns problemas econômicos que parecem modernos são, na realidade, históricos. Por exemplo, a desigualdade. Em finais do século 19, esse era um tema que despertava o britânico Alfred Marshall, professor da Universidade de Cambridge, que se dedicou a refletir sobre como eliminar a disparidade salarial sem afetar a prosperidade econômica.
Em sua grande obra, Princípios de Economia, de 1890, Marshall enfatizou que as diferenças de renda são um fator-chave que condicionam o desenvolvimento econômico. E para entender como melhorar a distribuição da riqueza, tentou transformar a economia em uma ciência prática, buscando formas de influir nos movimentos do mercado para que melhorasse o rendimento do capital e o bem-estar social geral concomitantemente.
O problema dos baixos salários também vem sendo abordado há quase um século. Uma das primeiras pessoas que analisou o fenômeno foi a economista britânica Joan Robinson, a única mulher que faz parte da lista de Linda Yueh. “Mulheres são apenas um quinto dos economistas do mundo “, diz Yueh.
Analisando o que ocorreu depois da Grande Depressão, Robinson criou o modelo de “competência imperfeita”, que ajuda a explicar por que o mercado de trabalho funciona de forma defeituosa, gerando baixos salários e desemprego.
Afastando-se das teorias de economia clássica, que sustentam que os mercados funcionam perfeitamente, baseados na oferta e demanda, Robinson mostrou que quando há monopólios, as empresas podem explorar seus trabalhadores, reduzindo seus salários. Como solução, propôs introduzir concorrência, para que qualquer empresa que explore um trabalhador corra o risco de perdê-lo para outra empresa.
Adam Smith, o pai do capitalismo, se mantém relevante
O primeiro economista citado no livro é Adam Smith, considerado o “pai do capitalismo”. “O que fez Adam Smith com sua obra seminal A Riqueza das Nações(1776) foi melhorar o entendimento de como funciona uma economia industrial”, algo que estava recém surgindo à época.
O escocês foi o primeiro a explicar conceitos econômicos como preço, produção, distribuição, finanças públicas, comércio internacional e crescimento econômico. “Por isso, se converteu na base da economia desde então”, afirma a pesquisadora Yueh.
Smith não apenas explicou como funcionava a nova economia industrial mas também como ela afetava os trabalhadores. Assim como outros economistas incluídos no seu livro, seus pensamentos seguem sendo relevantes ainda hoje.
“Suas teorias continuam servindo para entender como funciona o mercado e o papel do Estado. E nos ajuda a entender quando devemos estar preocupados e como devemos entender a balança comercial e os déficits comerciais, coisas que ainda são debatidas hoje”, defende a autora de The Great Economists.
Marx dizia que o capitalismo não poderia coexistir com o comunismo
O livro também aborda outro economista muito famoso: o alemão Karl Marx, que completou 200 anos de nascimento em 2018.
A BBC History questionou Yueh sobre o que pensaria o ideólogo do comunismo sobre a China, o país comunista que mais teve êxito na história. “Não tenha certeza de que Marx reconheceria que a economia chinesa de hoje adere a seus princípios”, responde.
O Partido Comunista chinês seguiu o marxismo por um tempo, antes da ruptura com a União Soviética, depois da Segunda Guerra Mundial, mas tudo mudou com “a introdução das reformas de mercado em 1978”, afirma Yueh.
A autora avalia que Marx poderia ter considerado “curioso” o que ocorre quando se introduz o capitalismo em um país com um sistema político comunista, “mas, segundo seus conceitos, não podia coexistir o capitalismo com o comunismo”.
Robert Solow procurou dar respostas para a estagnação econômica
Segundo a autora de The Great Economists, o último economista em sua lista, o americano Robert Solow, poderia nos ajudar a resolver um dos principais problemas econômicos atuais, que afeta nosso futuro próximo: a estagnação econômica.
O crescimento econômico diminuiu desde a crise financeira de 2008 e, nesse contexto, explicou, muitos temem converter-se em um Japão – um país rico que pode nunca se recuperar por completa de sua própria crise financeira, nos anos 1990.
O “modelo de crescimento” de Solow, que analisa a relação entre a produtividade, a capacitação do trabalhador e o investimento, “poderia nos dar as respostas para sair do problema”, defende Yueh.