O rendimento pífio da aplicação mais popular do país faz com que bilhões de reais fiquem nas mãos dos bancos, em vez de irem para a o bolso da população
SÃO PAULO – Você já parou para pensar que melhorar a vida das pessoas e colocar mais dinheiro circulando na economia não depende apenas dos políticos e de seus programas sociais? Pois saiba que uma simples mudança em um dos principais hábitos de investimento da população poderia injetar em torno de R$ 5 bilhões diretamente no bolso dos brasileiros – e consequentemente na combalida economia do país.
Bastaria que as pessoas trocassem a caderneta de poupança por outras opções tão simples e seguras quanto ela, mas que pagam um rendimento muito melhor. Vamos aos fatos. A poupança é o investimento mais popular do Brasil. No final de setembro, havia nada menos do que R$ 775,8 bilhões nesta aplicação. Fazendo uma conta simples, o rendimento anual da poupança fica em torno de R$ 35,29 bilhões mais a TR (que atualmente está em zero).
Se este mesmo valor estivesse aplicado em CDBs (Certificado de Depósito Bancário) que pagam 100% do CDI, ou então no título mais simples do Tesouro Direto – o Tesouro Selic – o rendimento anual seria de R$ 40,34 bilhões, já com o desconto do Imposto de Renda. Ou seja, o rendimento pífio da poupança faz com que bilhões de reais fiquem nas mãos dos bancos, em vez de irem para a o bolso da população.
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O melhor desta história é que estes R$ 5 bilhões que seriam “distribuídos” entre a população não sairiam de outros projetos importantes para o avanço do país. O dinheiro simplesmente deixaria de entrar nos cofres do Banco do Brasil, da Caixa, Itaú, Bradesco e Santander – e de outros bancos que oferecem poupança – e iria direto para o bolso de milhões de brasileiros que hoje investem na caderneta de poupança.
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Juntos, estes cinco bancos tiveram um lucro líquido de R$ 75,6 bilhões em 2017. Apenas com tarifas de conta corrente (como cobrança de extrato, TED, manutenção de conta) a receita total dessas instituições foi de R$ 27,3 bilhões, de acordo com um levantamento do InfoMoney efetuado no início do ano – leia a matéria aqui.
Para você ter ideia do que estes R$ 5 bilhões representam, em 2019 o governo pretende gastar R$ 3,47 bilhões com os subsídios explícitos no programa Minha Casa Minha Vida. Outro programa de governo que não chega nem perto do que os brasileiros deixam de ganhar na poupança é o Luz para Todos, que deve beneficiar 380 mil moradores que vivem sem acesso à rede elétrica no meio rural. Neste caso, o investimento estatal será de R$ 1,07 bilhão no ano que vem – ou seja, seria possível pagar 5 programas como este com a diferença de rendimento da poupança.
Distribuição de renda ao contrário
O fato é que a caderneta de poupança funciona como um programa de distribuição de renda ao contrário. Em vez do dinheiro sair do bolso dos mais abastados para beneficiar os mais pobres, ele faz exatamente o caminho oposto.
Pessoas que poderiam estar ganhando muito mais em aplicações tão seguras e simples quanto a poupança deixam suas economias em um produto que beneficia apenas os bancos e perdem a oportunidade de serem mais prósperas ao longo dos anos.
Se ainda não acredita, faça comigo uma conta simples. Se você tivesse investido R$ 100 mil na poupança há 10 anos teria hoje cerca de R$ 193 mil. Agora suponhamos que seu vizinho pegou os mesmos R$ 100 mil e colocou em um CDB que rende 100% do CDI ou no Tesouro Selic. Ele teria hoje R$ 228 mil, ou seja, R$ 35 mil a mais do que você – valor suficiente para ter na garagem um Renault Kwid ou um Fiat Mobi.
Para quem investiu R$ 1 milhão, a diferença nominal é ainda maior – nada menos do que R$ 350 mil a mais no bolso do vizinho.
A mesma segurança
Para quem acha que a poupança é o investimento mais seguro que existe, é importante saber que a mesma garantia da caderneta está presente no CDB – ambos são cobertos pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos) em aplicações de até R$ 250 mil por instituição e CPF. Já o Tesouro Direto é o título de renda fixa mais seguro que existe do ponto de vista de risco de crédito, já que tem garantia de pagamento do Governo Federal.