DOZE ANOS  SEM  GALBRAITH

  ALCYR VERAS (economista e professor universitário)

Há, na vida, pessoas cuja influência na sociedade é maior do que em suas profissões. O economista John Kenneth Galbraith foi um desses raros exemplos. Ele nunca recebeu o Prêmio Nobel ── uma espécie de “Oscar” da Economia. No entanto, seu talento, carisma e versatilidade no domínio da ciência econômica, eram tão veementemente marcantes que se tornou uma figura emblemática, muito mais conhecido no mundo do que os ganhadores clássicos daquela honraria acadêmica.

Galbraith era um profundo conhecedor das teorias econômicas, mas ao mesmo tempo um escritor de fino estilo literário, pois publicava também romances. Sua obra é vastíssima, composta de uma extensa lista de livros e artigos publicados em revistas especializadas de grande circulação nos Estados Unidos e na Europa. Discorreu, praticamente, sobre todos os ângulos do pensamento econômico.

Figurando como um dos economistas mais lidos do planeta, Galbraith tinha aguçado senso crítico e foi testemunha das grandes mudanças ocorridas na segunda metade do século passado, tanto na ciência econômica como no mundo em geral, sempre oferecendo suas reflexões e críticas. Torcia o nariz para as emergentes teses capitalistas de mercado, mas apostava na globalização.

Galbraith tinha os pés no chão, pois mostrava-se cético perante as extravagâncias mais fascinantes  da teoria econômica, quando não justificadas pelos dados empíricos. Defensor intransigente do intervencionismo do Estado, como meio de resolver os problemas sociais, contrapunha-se, claramente, às ideias do economista Milton Friedman, prêmio Nobel,  professor da Universidade de Chicago, mais conhecido por sua crença nos mercados competitivos. Em seu livro “Capitalismo Americano”, ele sustenta que os Estados Unidos tornaram-se uma potência mundial, no período pós-guerra, porque manipularam os preços da concorrência de modo a permitir a concentração industrial, que vem se formando desde aquela época.

De origem canadense, mas desde cedo naturalizando-se cidadão norte-americano, Galbraith era um homem de elevada estatura física, medindo mais de dois metros de altura. Com bom humor, dizia que gostava que o chamassem de o maior (mais alto) economista do mundo!  Sobre sonegação, costumava dizer com fina irreverência: “como de vez em quando algumas empresas são apanhadas cometendo sonegação, as outras vivem com medo, e é saudável que os ricos tenham medo”. Galbraith fez mestrado e doutorado na Universidade da Califórnia. Escreveu livros polêmicos como “A Economia da Fraude Inocente.”. Porém, a publicação mais provocativa foi a sua obra-prima “A Sociedade Afluente”, a qual lhe rendeu diversos prêmios de Associações Internacionais de Economistas.

Professor emeritus da famosa Universidade Havard, ele é um dos mestres mais brilhantes e festejados da  história daquela legendária instituição de ensino. Sempre polêmico, fez memoráveis conferências em vários países do mundo.

Galbraith assessorou os presidentes norte-americanos, Franklin Roosevelt, Bill Clinton e John Kennedy, de quem foi amigo pessoal e conselheiro íntimo.

Embora editado em 1977, seu livro “A era da Incerteza”, traduzido em dezenas de idiomas, é ainda, sem dúvida, o de maior impacto das duas ultimas décadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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