Séries policiais como C.S.I. — Investigação criminal, Mentes criminosas e Elementary despertam a atenção de milhares de telespectadores mundo afora e popularizam os profissionais que lidam com a apuração de crimes. Bem antes disso, os livros que retrataram o detetive Sherlock Holmes, personagem do escritor e médico britânico Arthur Conan Doyle, fizeram o mesmo. Entre os trabalhadores fundamentais para a investigação de contravenções dos mais diversos tipos está o perito. E, com o passar do tempo, surgiram várias modalidades de perícia (que, basicamente, é o esclarecimento de fatos por um especialista na área), como a criminal, a médica, a ambiental, a judicial, a tecnológica e a de engenharia.
Ultimamente, com operações contra corrupção e lavagem de dinheiro, como a Lava-Jato, têm ganhado destaque os peritos econômico-financeiros, que passam a ser mais demandados pelo mercado. De acordo com Paulo Cordeiro de Mello, economista e contador pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), o assunto mais recorrente em perícia econômico-financeira envolve operações de crédito. “Em diversas situações, precisa-se de um profissional que conheça as condições e possa fazer análise e interpretação da operação financeira”, explica ele, que é perito econômico-financeiro. Esse trabalhador, chamado de perito assistente técnico, pode ter atuação como autônomo ou ser contratado por entidades, como escritórios de contabilidade.
Também existe a opção de um perito criminal tradicional, servidor público de alguma polícia, se especializar nesse campo e prestar serviços dentro da carreira. No primeiro caso, os peritos podem ser convocados como consultores por juízes para auxiliar na resolução de casos, o chamado perito do juízo. Ele ajuda-os a entender questões econômico-financeiras que fogem do conhecimento dos magistrados em processos judiciais. Assim, o perito investiga e, com base em provas e fatos, apresenta laudo técnico. “O juiz não tem de entender de todos os assuntos. Por isso, precisa do profissional que traga o conhecimento técnico específico”, afirma Vilma Guimarães, perita judicial e integrante de um grupo de trabalho do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
Entre os motivos apontados para a expansão da área está o novo Código de Processo Civil (CPC), em vigor desde 2016. Paulo Cordeiro de Mello acredita que alguns dispositivos da lei trouxeram movimentação intensa e vigorosa para os processos judiciais, aumentando a demanda por peritos. “Há um crescimento da perspectiva de trabalho, porque existe uma migração dos processos físicos para os digitais. Além disso, o CPC passou a prever a criação de um cadastro de peritos nos conselhos de economia e de contabilidade”, conta. “Isso aumentou o dinamismo e facilitou a atuação em perícia”, afirma. No entanto, os magistrados não são obrigados a chamar alguém do cadastro. “O código estabelece que eles podem se valer dessa lista, mas nem sempre se usa isso, não é uma coisa que tem de ser seguida”, completa Vilma Guimarães, que é perita econômico-financeira.
Mercado em expansão
Esses especialistas não trabalham apenas quando convocados por juízes. Há demandas de organizações de diversos tipos. E, segundo especialistas na área, as oportunidades de atuação têm crescido e faltam profissionais para suprir vagas ociosas. Vilma Guimarães, pós-graduada em perícia judicial e práticas atuariais, acredita que as dúvidas dos funcionários e empregadores sobre a nova legislação trabalhista, contratos bancários e outras questões incentivam o aumento das oportunidades. “As pessoas estão ficando mais conscientes. O perito pode ser contratado, também, pelo réu ou autor da ação para auxiliar aquela pessoa”, explica. Para Clênio Belluco, que atuou como perito criminal federal na Polícia Federal (PF) por 20 anos, o mercado é bastante promissor e existe espaço sobrando para novos profissionais. “Tanto na PF quanto nas perícias estaduais, há carência para apurar crimes financeiros, como corrupção e lavagem de dinheiro. Para tudo isso, utiliza-se o conhecimento do perito economista e contador”, diz.
Não são apenas os economistas que estão habilitados ao emprego em perícia econômico-financeira. Profissionais que tenham a matemática como parte essencial de sua formação, tais como engenheiros, contadores e administradores, matemáticos e estatísticos podem trabalhar na área, como observa Vilma. “No entanto, cada profissão tem um limite de atuação dentro da perícia”, ressalta. O mestrando em ciências contábeis na Universidade de Brasília (UnB) Gustavo Maia, 28 anos, que é economista e contador, pretende ser perito, mas ressente-se do pouco conhecimento disponível para quem deseja seguir essa carreira.
“É um ramo desprivilegiado. São poucas informações. Não conheço estágio na área, nem alguém que o tenha feito”, lamenta. A grande dificuldade para ele se mostra na hora de tentar o primeiro emprego. “A perícia é um trabalho sério, tem de fazer muito bem-feito. É um desafio grande, porque é uma área em que é preciso estar sempre estudando. Não dá para emitir o mesmo laudo para todos os casos. Por isso a necessidade de constante atualização”, acredita.
O estudante fez a única disciplina de perícia contábil disponível na UnB e, agora, busca contato com profissionais que atuam no mercado para saber como se especializar. “Estou aumentando minha carga de estudo e, assim que terminar o mestrado, minha capacitação estará bem mais afiada para atuar na área”, conta. Ele esteve presente no 1º Fórum de Perícia Econômica Financeira, promovido pelo Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), em 14 de novembro. O objetivo do evento era capacitar os profissionais para atuação no campo.
Fonte: Jornal Correiobraziliense Eu Estudante, por Felipe de Oliveira Moura.