Aldemir Freire – economista
No último domingo(10), o pesquisador da UFRN Marco Túlio de Mendonça Diniz, em uma matéria para o Jornal Tribuna do Norte, revelou que o volume de precipitações em Natal/RN cresceu 25% no último meio século. Utilizando dados do INMET, o pesquisador compara as Normais Climatológicas da capital potiguar do período 1961-1990 com a de 1981-2010 e chega à conclusão de que esse aumento decorreu do avanço da urbanização e se concentrou nos meses de junho a agosto, quando predomina as chuvas ocasionadas pelo denominado “sistema atmosférico das ondas de leste”.
Embora não sendo da área (portanto esse artigo deve ser lido com muito cuidado), fui verificar no site do INMET como se comportaram as Normais Climatológicas dos municípios localizados no semiárido potiguar, cujo regime de chuvas se concentra no período que vai de fevereiro a maio e são resultados do comportamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).
Aqui cabe uma pequena digressão para a definição de Normal Climatológica. Segundo o INMET, “a Organização Meteorológica Mundial (OMM) define Normais como valores médios calculados para um período relativamente longo e uniforme, no mínimo três décadas consecutivas”.
Para o Brasil, o INMET calculou as Normais Climatológicas para os períodos 1961-1990 e 1981-2010. Há dados para poucos municípios, considerando que, para esses cálculos, é necessário a presença de instalações meteorológicas do INMET durante todo o período.
No Rio Grande do Norte os dados apresentados para os municípios de Apodi, Florânia e Cruzeta são assustadores. Podemos verificar no gráfico abaixo que no longo prazo vem ocorrendo uma diminuição do volume de chuvas nesses três municípios, inclusive com queda mais pronunciada no período da quadra chuvosa, que se concentra entre fevereiro e maio.
Em Florânia, a quadra chuvosa do período 1981-2010 foi quase 22% mais seca do que no período 1961-1990. Em Cruzeta ocorreu uma redução no volume de chuvas de 12,2% e em Apodi, de 9,9%.
Esses números apontam para a possibilidade de que o semiárido potiguar está ficando cada vez mais seco, provavelmente um fenômeno já decorrente das mudanças climáticas globais. Outra conclusão alarmante que podemos extrair desses dados é que há uma grande probabilidade de que a próxima Normal Climatológica a ser divulgada pelo INMET, cobrindo o período 1991-2020, possa vir com mais uma queda do volume de chuvas na região, uma vez que serão incorporados os dados da grande seca que assolou o sertão nordestino no período de 2012 a 2017.
Esses números apontam para a necessidade urgente da construção de políticas públicas que reforcem a capacidade da região de conviver com o fenômeno da seca, que provavelmente tendem a ser mais severas e mais longas, como vimos na década presente.
Além disso, há uma necessidade de políticas de combate ao processo de desertificação, fenômeno já presente em território potiguar e que também tende a se agravar ao longo do tempo.
É preciso com urgência que a população norte rio-grandense incorpore no seu dia a dia a discussão sobre as mudanças climáticas e seus efeitos sobre o semiárido potiguar, território que cobre a maior porção do Rio Grande do Norte. Enfrentar as questões da oferta hídrica, da economia, da convivência com a seca, do combate à desertificação, do desenvolvimento econômico e social da região passa, necessariamente, por reconhecer que as mudanças climáticas em curso vão agravar ainda mais a questão da seca na região.
Mais que isso, passa por reconhecer que esse agravamento já pode estar ocorrendo e que tende a ganhar força ao longo do presente século.
Esse deve ser um dos temas centrais em qualquer modelo de desenvolvimento para o Rio Grande do Norte.